O Eataly Brasil vive um momento delicado, marcado por desafios financeiros e judiciais. A operação brasileira do renomado mercado gastronômico está temporariamente impedida de usar a marca italiana devido a uma decisão em um processo de arbitragem com a empresa global detentora dos direitos. A determinação não é definitiva, mas já resultou na retirada do letreiro do espaço localizado na Avenida Juscelino Kubitscheck, em São Paulo. Apesar disso, o mercado e seus restaurantes seguem funcionando normalmente.
O contrato com a matriz italiana, firmado por 30 anos em 2022, é alvo de controvérsia. Em nota enviada à imprensa, o Eataly Brasil afirmou ser contra a rescisão unilateral do contrato e defendeu a manutenção de seus direitos contratuais. Presente no Brasil há quase uma década, o Eataly chegou a faturar cerca de R$ 100 milhões ao ano em seu auge, atraindo amantes da gastronomia com eventos estrelados por chefs como Alex Atala e Massimo Bottura. No entanto, problemas de gestão e o impacto da pandemia de covid-19 levaram a uma dívida acumulada de R$ 55 milhões.
Em 2023, o fundo Wings, composto por diversos investidores, assumiu a operação em parceria com um Family Office, substituindo a South Rock, que estava em recuperação judicial. Com a transação, parte da dívida foi renegociada, resultando no pagamento de R$ 20 milhões, mas ainda restam R$ 35 milhões em aberto. Como parte da tentativa de estabilizar as contas, o Eataly Brasil entrou com pedido de recuperação judicial no final de 2024.
A nova administração anunciou medidas de reestruturação no fim do ano passado para equilibrar as finanças e atrair novamente o público. Entre as mudanças, destacam-se a renovação dos restaurantes e a inauguração de novos espaços gastronômicos. Um exemplo é o restaurante especializado em carnes “Nice to Meat U”, aberto no último andar do mercado. Além disso, um restaurante terceirizado no térreo foi substituído por uma operação própria, e uma escola de gastronomia foi criada, oferecendo aulas e eventos corporativos.
Em nota oficial, o Eataly Brasil afirmou que o pedido de recuperação judicial busca garantir uma negociação estruturada e equilibrada com os credores. A empresa destacou que a decisão reflete seu compromisso em encontrar soluções viáveis para as dívidas em aberto e assegurar a continuidade das operações. Apesar do faturamento mensal de cerca de R$ 5 milhões no terceiro trimestre de 2024, a marca ainda está abaixo dos R$ 10 milhões mensais que costumava alcançar em seu auge.
Fornecedores, no entanto, relatam dificuldades para receber pagamentos. Alguns mencionaram dívidas próximas a R$ 1 milhão, evidenciando os desafios enfrentados pela nova gestão. Enquanto busca estabilizar suas finanças, o Eataly Brasil tenta reverter a proibição do uso da marca na Justiça, apostando em uma reestruturação ambiciosa para recuperar sua posição de destaque no mercado gastronômico.