Em uma cerimônia marcada pela emoção, Zezé Motta recebeu nesta quinta-feira (31/10) o título de Doutora Honoris Causa pela Fiocruz, tornando-se a primeira artista a ser homenageada com a maior honraria da instituição. A solenidade aconteceu no Museu da Vida Fiocruz e foi transmitida ao vivo, destacando a trajetória de Zezé como símbolo de resistência e cultura no Brasil.
A homenagem partiu de uma iniciativa do presidente da Fiocruz, Mario Moreira, e foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Deliberativo da instituição. Zezé, conhecida por seu compromisso com a representatividade e pela luta contra o preconceito, destacou a importância desse reconhecimento em sua carreira. “Receber esse título é um marco que reforça meu compromisso com a justiça e a igualdade,” afirmou a atriz.
Mario Moreira, ao abrir a cerimônia, enfatizou o impacto de Zezé na sociedade brasileira e sua contribuição para um país menos desigual. “O trabalho de Zezé transcende as telas e os palcos. Sua luta pela justiça é também a luta da Fiocruz, em prol de uma sociedade mais justa e igualitária,” declarou Moreira, apontando a conexão entre arte e ciência no fortalecimento dos valores sociais.
Mais de cinco décadas de carreira
Nascida em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, Zezé iniciou sua carreira no teatro em 1967 e, desde então, conquistou espaços significativos nas artes brasileiras. Protagonista de “Xica da Silva” (1976) e conhecida por seu trabalho em telenovelas e filmes, a atriz acumula mais de 60 filmes e diversas premiações, como o Troféu Oscarito do Festival de Gramado e o Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro.
Em sua fala, Zezé relembrou a força das mulheres negras que vieram antes dela e a luta diária de tantas outras que, como ela, desafiam estereótipos. “Ser uma mulher preta no Brasil é um ato de resistência constante. Conquistar espaço é uma vitória coletiva,” pontuou a atriz, que também fez um apelo pelo fim da violência contra a mulher.
Uma vida dedicada à luta antirracista
A coordenadora de Equidade, Diversidade e Inclusão da Fiocruz, Hilda Gomes, destacou o papel de Zezé na luta antirracista, lembrando sua participação na fundação do Movimento Negro Unificado e do Centro de Informação e Documentação Artista Negro (Cidan). Para Hilda, “Zezé é um ícone cultural e uma figura central na luta pela equidade no Brasil, simbolizando a força contra as adversidades.”
Homenageando também a pensadora Lélia Gonzalez, Zezé contou como encontrou nela uma inspiração e um caminho para fortalecer sua atuação. “Lélia dizia que não tínhamos tempo para lamúrias, mas para ação. Esse ensinamento moldou minha trajetória,” afirmou a atriz.
A cerimônia foi enriquecida por apresentações musicais de Sara Hana e Zé Duarte Neto, que cantaram “Tigresa” e “Senhora Liberdade”, clássicos do repertório de Zezé, e por uma peça criada especialmente para ela. Em suas palavras finais, Zezé reforçou a importância da arte como agente de transformação: “Acredito que a arte dá voz a quem muitas vezes é silenciado. Espero que minha trajetória inspire as futuras gerações a seguirem com coragem e valorizem a cultura brasileira.”