Foto: Arte Digital

Linn da Quebrada, a verdade e o abismo da indiferença

Linn estava na Cracolândia.

A assessoria mentiu. A imprensa, que foi acusada de irresponsabilidade, estava certa. O que era tratado como boato, suposição, jogada sensacionalista, revelou-se um fato. E agora?

Agora nada. Porque a verdade nunca foi o centro dessa história. O que importa não é onde Linn estava, mas como essa informação foi tratada desde o início.

Desde a primeira manchete, a cobertura do caso seguiu a lógica perversa do jornalismo de celebridades: o objetivo nunca foi compreender, ajudar ou acolher. Foi vencer uma disputa. Não sobre Linn, mas sobre quem controla a narrativa. Quem acerta primeiro. Quem tem razão. Quem pode esfregar a notícia na cara do outro e dizer: “eu avisei.”

Linn foi reduzida a um campo de batalha. Não houve um minuto de silêncio para que se perguntassem o que levou uma artista talentosa, símbolo de resistência, a estar naquele lugar. Não houve um segundo de pausa para que refletissem sobre o que poderia ser feito para ajudá-la.

Desde o início, a preocupação não foi com ela, mas com a notícia.

E agora que se confirma, a indiferença permanece. As manchetes já não falam sobre o que acontece a seguir. Não há um debate real sobre vício, vulnerabilidade, recaídas, acolhimento. Não há um olhar humano sobre Linn, apenas uma sequência de textos reafirmando que estavam certos e que a assessoria mentiu.

Mas e Linn?

Ela está internada. Está em um momento delicado. Está enfrentando algo que qualquer um poderia enfrentar. Mas nada disso importa, porque o sistema já extraiu o que precisava dela.

É o mesmo ciclo de sempre. Primeiro, jogam uma pessoa no centro do escândalo. Depois, disputam entre si para ver quem “descobre a verdade” primeiro. Quando a verdade vem, não há acolhimento – apenas um silêncio incômodo e a espera pelo próximo nome que ocupará esse espaço.

Antes de Linn, já fizeram isso com Klara Castanho, transformando um trauma em um espetáculo. Já fizeram isso com Reynaldo Gianecchini, tratando sua sexualidade como um mistério a ser revelado. Já fizeram isso com Maraisa, reduzindo seu corpo a uma pauta de especulação. Nenhum desses nomes importava além daquilo que podiam render como notícia.

E agora Linn.

Linn estava na Cracolândia. E ao invés de nos perguntarmos por quê, preferimos celebrar quem acertou a manchete.

A pergunta nunca foi se a notícia era verdadeira. A pergunta que deveríamos estar fazendo é: o que acontece agora?

Mas o jornalismo de celebridades não se importa com respostas. Apenas com a próxima história.

WhatsApp
Facebook
Twitter