A postura da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas diante da prisão do cineasta palestino Hamdan Ballal, vencedor do Oscar de Melhor Documentário por “Sem Chão”, tem gerado revolta entre artistas e membros votantes da própria instituição. Detido por militares israelenses após ser brutalmente atacado por colonos na Cisjordânia, Ballal foi libertado recentemente, mas a falta de apoio público da Academia tem sido duramente contestada.
Estrelas como Olivia Colman, Joaquin Phoenix, Emma Thompson, Mark Ruffalo, Javier Bardem e Penélope Cruz se uniram a uma carta aberta que cobra da organização uma posição firme e direta. O documento também conta com a assinatura de cineastas e produtores brasileiros que integram o corpo votante do Oscar, entre eles Alice Braga, Lais Bodanzky, Petra Costa, Rodrigo Teixeira e Maria Augusta Ramos.
A crítica central recai sobre o silêncio institucional da Academia, que, embora tenha publicado uma nota genérica contra ataques a artistas, evitou citar o nome de Hamdan Ballal ou mencionar os eventos que levaram à sua prisão. Para os signatários da carta, a incoerência entre premiar um documentarista por sua coragem e, semanas depois, se esquivar de defendê-lo diante de uma violação grave de direitos humanos, é inaceitável.
A presidente Janet Yang e o CEO Bill Kramer justificaram a ausência de posicionamento direto alegando a diversidade de visões entre os mais de 11 mil membros da organização. No entanto, essa neutralidade tem sido interpretada como cumplicidade ou, ao menos, falta de compromisso com os princípios de liberdade artística e proteção aos contadores de histórias — especialmente os que se arriscam para trazer à tona realidades silenciadas.
A ausência da Academia nesse episódio não passou despercebida. E, ao que tudo indica, a resposta tardia ou evasiva pode custar à instituição não apenas sua credibilidade, mas também a confiança de parte expressiva da comunidade artística internacional.