Nesta sexta-feira, 4 de abril, o diplomata e escritor Edgard Telles Ribeiro foi oficialmente recebido como novo integrante da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 27, anteriormente pertencente ao filósofo Antonio Cicero. Para a cerimônia, o traje acadêmico do novo imortal foi confeccionado pela estilista carioca Julia Parker — marcando um feito raro: é apenas a segunda vez, em 127 anos de história da ABL, que uma mulher assina a confecção do tradicional fardão, e a primeira em 35 anos.
Reconhecida por seu trabalho com vestidos de noiva, Julia foi escolhida pelo próprio acadêmico, especialmente por sua habilidade no bordado, essencial para a confecção da peça em verde-oliva, que segue um modelo tradicional e rígido. Ao contrário de seu trabalho habitual, onde a criatividade é livre, o desafio aqui era seguir fielmente um desenho histórico. “É um trabalho completamente diferente do que faço no dia a dia”, declarou a estilista.
A peça começou a ser produzida em janeiro, no ateliê de Parker. As provas finais aconteceram na última semana. Segundo ela, foram feitos inúmeros testes de bordado até chegar ao resultado final. “Foi um processo exigente, mas extremamente gratificante”, contou.
O fardão é custeado atualmente pelos próprios acadêmicos — um investimento que pode ultrapassar os R$ 50 mil. A tradição de o Estado bancar o uniforme foi deixada para trás, e hoje, cada imortal define quem será o responsável por produzir a vestimenta. Em 2022, por exemplo, Gilberto Gil e Fernanda Montenegro romperam a hegemonia do alfaiate oficial da casa, Diógenes Cardoso, e confiaram o trabalho a Marcelo Pie, parceiro do acadêmico Antonio Cicero.
Antes de Julia Parker, a única mulher a confeccionar um fardão havia sido Edite Minervina, em 1990, para a posse de Ariano Suassuna. Agora, Parker se torna parte dessa breve, porém simbólica, lista. “Me sinto imensamente honrada. Poucas mulheres têm essa oportunidade, e isso tirou toda a minha equipe da zona de conforto. Mas quando vimos o resultado pronto, foi uma emoção enorme”, declarou.
A entrada de Telles Ribeiro na ABL é, portanto, também um marco silencioso para a moda e a representatividade feminina em espaços historicamente masculinos.
