Após décadas à frente da estrutura administrativa da TV Vanguarda, Maria Irany Vieira Costa Castro, atual diretora geral da emissora, anunciou que se aposentará em julho deste ano, segundo fontes. A saída marca o fim de uma das mais longas e sólidas trajetórias da televisão regional brasileira.
Irany está na emissora desde seus primeiros anos, ainda na fase de estruturação do projeto idealizado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Em 2011, tornou-se sócia formal do grupo empresarial, passando a integrar o quadro societário de empresas como a RDB Televisão, a Vanguarda Multicast e a TV Taubaté. Mas sua atuação nos bastidores da Vanguarda já era anterior — e essencial.
De perfil reservado e atuação implacável, Irany assumiu progressivamente o controle administrativo da emissora até chegar ao posto de diretora geral, função que ocupa atualmente com autonomia plena sobre gestão financeira, estratégica e estrutural.
A arquiteta do padrão Vanguarda
Durante sua gestão, a TV Vanguarda consolidou-se como modelo nacional de televisão regional. Recebeu seis vezes o título de Melhor TV Regional do País, concedido pela Academia Brasileira de Marketing. A última dessas premiações aconteceu recentemente, com o troféu O Comunicador sendo entregue à própria Irany.
“É uma honra. Nos sentimos lisonjeados sempre, e isso confirma que estamos no caminho certo”, afirmou à época. A frase, simples, resume uma administração marcada por planejamento meticuloso, rigor técnico e resultados consistentes.
Confiança de Boni e poder nos bastidores
Ligada pessoal e profissionalmente a Boni, Irany tornou-se guardiã do projeto que levou a Globo ao Vale do Paraíba com padrão de capital. Coube a ela garantir que o modelo se mantivesse — e prosperasse — em tempos de crise, transição digital, reestruturações internas e mudanças no consumo de mídia.
Como diretora geral, supervisionava pessoalmente todas as áreas da empresa, da engenharia à redação, da publicidade à política de contratações. Não havia área da Vanguarda onde seu nome não fosse decisivo.
Ao longo dos anos, Irany acompanhou e liderou transformações cruciais, mantendo a emissora com estrutura sólida, equipe técnica estável e padrão de produção que se tornou referência entre afiliadas da Globo.
Transições e liderança institucional
Entre os episódios marcantes de sua gestão está a saída da jornalista Terezinha Almeida, em 2023, após mais de duas décadas como gerente de jornalismo da emissora. Apesar de diferenças de visão relatadas nos bastidores, Irany conduziu a transição com profissionalismo e respeito. Em comunicado interno, descreveu a colega como “uma professora que preparou profissionais para viver intensamente um jornalismo com qualidade”.
Esse cuidado com a instituição, mesmo diante de desafios pessoais ou profissionais, é marca registrada de sua trajetória.
O que vem depois
Irany deve realizar uma viagem à Europa logo após a saída. A emissora, com sede em São José dos Campos e cobertura em 46 municípios, ainda não anunciou oficialmente sua sucessora ou sucessor. Mas fontes internas indicam que a orientação será por continuidade e preservação do modelo que ela deixou.
Com mais de 90% da região coberta por sinal HD, presença comercial consolidada e reconhecida liderança jornalística, a Vanguarda segue em posição estratégica no ecossistema Globo. A dúvida agora não é se a emissora continuará sólida — mas se alguém será capaz de sustentar, com a mesma constância, o peso que Irany carregou por tanto tempo com aparente leveza.
Um comando que não se impôs, mas se afirmou
Irany Castro não foi figura pública. Mas sua influência moldou o cotidiano, o orçamento, o conteúdo e até o silêncio da emissora. Seus e-mails eram lidos com atenção. Suas decisões, cumpridas. Seu estilo — direto, discreto, rigoroso — foi muitas vezes temido, mas sempre respeitado.
Ela deixa a emissora não apenas com números e prêmios. Deixa uma cultura. Uma lógica. Uma estrutura que não dependeu de improviso, mas de gestão. Sua aposentadoria não é apenas a saída de uma diretora — é o fim de uma fundação.
Irany Castro se despede em julho. A Vanguarda continua. Mas ninguém que conheça sua história confundirá permanência com substituição. Há cargos que se preenchem. Há legados que apenas se reconhecem.