Crise em seis cenas

Em “A Crisis in Six Scenes”, Woody Allen tenta uma incursão pelo formato televisivo, uma escolha ambiciosa que reflete tanto sua experiência em narrativas cinematográficas quanto sua capacidade de se adaptar às plataformas de streaming modernas. No entanto, esta série da Amazon, ambientada na década de 60, acaba por ser menos uma exploração nova e mais um eco das fórmulas passadas de Allen.

Allen, assumindo o papel de Sidney Munsinger, um escritor de meia-idade cuja carreira literária nunca realmente decolou, encarna mais uma vez o arquétipo do intelectual nova-iorquino neuroticamente distraído. Juntamente com Elaine May, que interpreta sua esposa, a psicóloga Kay, a dupla retrata uma vida confortavelmente burguesa que é bruscamente interrompida pela chegada de Lennie Dale, interpretada por Miley Cyrus, uma jovem ativista radical que se esconde da polícia em sua casa suburbana. Este cenário está repleto de potencial para choques culturais e conflitos geracionais picantes, mas o roteiro falha em entregar qualquer novo insight ou humor verdadeiramente mordaz.

A performance de Cyrus é energética, e ela traz um certo frescor necessário ao mundo muitas vezes insular de Allen, mas seu personagem é tratado mais como um dispositivo de trama conveniente do que como uma força genuinamente transformadora. As discussões sobre política e sociedade, que deveriam ser o coração da tensão na série, muitas vezes se desviam para o didatismo ou caem em clichês, deixando o espectador com pouco para mastigar além de piadas recicladas e nostalgia superficial.

Visualmente, a série não faz nada de extraordinário; ela se apoia no charme antiquado dos cenários dos anos 60 e no guarda-roupa, que, embora bem executado, não compensa a falta de substância e dinâmica na narrativa. Allen utiliza os mesmos ângulos de câmera e cores que ele tem explorado em seus filmes mais recentes, o que pode confortar os fãs de longa data, mas pouco faz para atrair novos espectadores.

O que poderia ter sido uma análise penetrante de uma era de turbulência e mudança cultural acaba sendo uma série que parece deslocada no tempo, incapaz de realmente envolver ou desafiar seu público. Allen parece confiar demais em suas velhas fórmulas, sem se adaptar às expectativas de uma audiência moderna que busca histórias mais complexas e nuanciadas.

“A Crisis in Six Scenes” é um lembrete de que a transição de um artista de um meio para outro nem sempre é suave ou bem-sucedida. A série, apesar de seus breves momentos de charme, é majoritariamente uma oportunidade perdida, marcada por uma sensação persistente de que poderia ter sido muito mais do que a soma de suas partes. É, talvez, uma crise não apenas para seus personagens, mas também para o próprio Allen, que parece lutar para encontrar um novo terreno criativo em uma paisagem mediática que evoluiu além de suas abordagens testadas e verdadeiras.

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