Foto: Divulgação

Crítica — “Pequena Grande Vida”

Por que diminuir seria a salvação? Ou será que encolher o corpo não livra da desmedida da alma?

Alexander Payne, diretor consagrado por retratar com fina ironia o americano médio em filmes como “Sideways” e “Nebraska”, entrega em “Pequena Grande Vida” (“Downsizing”) uma proposta engenhosa: e se encolher as pessoas fosse a solução para os males do planeta?

A premissa é provocadora, sim — digna de um episódio de “Black Mirror” —, mas o resultado se debate entre o que quer dizer e como escolhe dizer. Payne levanta questões filosóficas, ambientais e econômicas em um futuro possível, onde a humanidade decide se tornar minúscula para poupar recursos. O problema é que o filme, que começa como sátira futurista, desanda num drama didático e inconsistente.

Matt Damon interpreta Paul Safranek, um homem banal que busca uma vida melhor no mundo dos “pequenos”. Mas a tal utopia, que se vende como ecológica e abundante, esconde — surpresa! — os mesmos problemas do mundo grande: injustiça, desigualdade e alienação. Payne tenta construir um espelho filosófico da nossa sociedade, mas o roteiro se perde entre os gêneros e não sustenta o peso da própria ambição.

A única grandeza genuína de “Pequena Grande Vida” está na atuação de Hong Chau como Ngoc Lan Tran. Sua presença traz um abalo necessário na zona de conforto narrativa. Com humor involuntário, dor e lucidez, ela vira o centro moral do filme — e parece pertencer a uma obra mais corajosa, que “Pequena Grande Vida” se recusa a ser.

Visualmente, Payne mantém sua estética contida, sóbria, quase minimalista demais para um universo tão potencialmente rico. A redução das pessoas vira um artifício técnico — e nunca uma ferramenta poética ou simbólica mais profunda. Falta ousadia imagética. E falta alma.

“Pequena Grande Vida” começa como fábula distópica, flerta com a comédia de costumes, mergulha num drama social e emerge num existencialismo ecológico de manual. No fim, não é nenhuma dessas coisas por inteiro. E o que poderia ser uma crítica mordaz ao capitalismo verde e ao escapismo moderno vira um discurso frouxo, preso no didatismo e na hesitação.

Afinal, diminuir o tamanho dos corpos não muda o peso das consciências. E Alexander Payne, que já foi cirúrgico ao abordar o vazio da classe média americana, aqui entrega apenas um esboço — pretensioso, mas inofensivo.

 

★ ★ ☆ ☆ ☆

Duas estrelas. Porque, ironicamente, esse filme tão cheio de ideias acaba pequeno demais para merecer mais.

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