Denilson Lima nasceu em Paraibano, sertão do Maranhão, mas foi no palco cintilante da confeitaria de luxo que seu nome se desenhou como assinatura. Aos 27 anos, ele já não é mais promessa — é fenômeno. E não por ter inventado um novo sabor de brigadeiro ou viralizado uma receita no Instagram, mas por ter ousado comparar seus ovos de Páscoa a uma bolsa Louis Vuitton. E o mais incrível: conseguiu convencer gente disposta a pagar até R$ 15 mil por uma dessas joias de chocolate.
Não, ele não é um delírio gourmet da elite paulista. Denilson começou cedo — aos 17 anos — em São Luís, capital do Maranhão, após se mudar de sua pequena cidade. Foi lavando louça, ouvindo conversa de confeiteiras e assistindo vídeos de gastronomia no YouTube que aprendeu a dominar o que hoje apresenta como arte. E aprendeu mesmo. Hoje, seus ovos do tipo Fabergé não são apenas sobremesas: são símbolos de estética barroca repaginada, uma experiência sensorial com gosto de transgressão.
“Eu vendo arte”, diz ele, entre uma provocação e outra. E diz com o natural orgulho de quem soube transformar limite em luxo. O tempo de produção de seus ovos pode chegar a quatro dias, e cada peça é pensada como se fosse um relicário de Páscoa — daqueles que não se desembrulha, se contempla.
Denilson não se desculpa pelo preço. “O chocolate não pesa. Eu cobro pela arte”, repete. É um tapa de luva em uma classe confeiteira que, como ele mesmo critica, ainda se rebaixa na precificação e subestima seu próprio talento. Ele faz o contrário: embrulha talento em ouro e coloca valor onde muitos só veem caloria.
Seus clientes? Não são influenciadores. Ele deixa claro: “A maioria gosta de mostrar, mas não compra.” Denilson mira outro público — aquele que não quer apenas um doce, mas uma experiência. E é esse público que o procura, que aguarda em fila de espera, que transforma seus ovos em objetos de desejo.
Ele trabalha para um nicho e tem consciência disso. E talvez aí resida sua genialidade. Em tempos em que a confeitaria virou produto de stories, Denilson decidiu fazer história. Apostou na estética, elevou o preço, causou incômodo — e venceu. O incômodo, aliás, é parte do charme. Afinal, o que é luxo se não aquilo que provoca?
Mas nem tudo foi pavê e festa. O menino de Paraibano já foi tímido, inseguro, e chegou a São Paulo carregando mais dúvidas que receitas. Ainda assim, abriu caminho na confeitaria de luxo com a coragem de quem sabe que, para ser respeitado, precisa primeiro se respeitar.
Hoje, seu nome está nos bastidores das mesas de gente muito rica. E embora não tenha números públicos de faturamento, ele já sabe o suficiente para não se vender por um publipost. Quando perguntado sobre o hype ao redor de seus ovos, responde: “Não me incomoda. É trabalho.”
Aos que se chocam com o valor de R$ 15 mil por um ovo, Denilson responde com técnica, acabamento e um sutil sorriso de quem entendeu o jogo — e aprendeu a jogá-lo como poucos. Em tempos de doce demais e substância de menos, ele é exceção rara: entrega beleza, mas também discurso.
No fim das contas, o que Denilson Lima faz não é só chocolate. É conceito.
E conceito, como se sabe, derrete menos do que açúcar.