Junior Pacheco, 34 anos, já teve dias de prestígio. Nascido em Barreiras, na Bahia, construiu carreira no Vale do Paraíba e chegou a aparecer em revistas de decoração como Casa Vogue e Casa Cláudia. Na época, mantinha um escritório em São José dos Campos e conquistava clientes, espaço em colunas sociais e certa notoriedade no meio do design de interiores. Mais tarde, ampliou o alcance com o canal Porta Aberta, no YouTube, onde entrevistava celebridades em suas casas; entre elas Nany People, Rita Cadillac, Nicole Bahls e Naldo. Os vídeos, que circulavam entre dois e cinco anos atrás, ajudaram a fixar sua imagem como influenciador.
Hoje, porém, o nome que circula nas páginas policiais é outro. Valdemir Oliveira dos Santos Júnior, seu nome de batismo, é acusado de praticar golpes em diferentes cidades de São Paulo. Boletins de ocorrência relatam desde calotes banais em floriculturas até acusações graves de estelionato, extorsão e até “Boa Noite, Cinderela”. Na região de Santa Cecília, área central da capital, ele se tornou figura conhecida por comerciantes e moradores.
Um dos relatos mais repetidos envolve encontros em restaurantes. Pacheco combinava jantares, comia, bebia e, na hora de pagar, alegava que faria um Pix que nunca chegava ou simplesmente dizia que precisava ir ao banheiro e desaparecia. Um jovem afirmou ter arcado sozinho com uma conta de R$ 900 após ter sido abordado pelo influenciador no Minhocão. Em outros casos, a conta foi menor, como os R$ 15 de uma floricultura em Santa Cecília, mas também chegou a valores expressivos, como R$ 6.600 em uma loja de calçados e R$ 2.000 em um restaurante.
As denúncias não se restringem a calotes em estabelecimentos. Homens relatam ter sido vítimas de golpes mais violentos, com drogas colocadas em bebidas, seguidas de furtos. Outros registraram boletins de ocorrência acusando Pacheco de extorsão: segundo as vítimas, ele telefonava dizendo saber de supostas compras de drogas e exigia dinheiro para não denunciá-los. Há ainda um caso em que um michê afirmou ter sido ameaçado com uma seringa ao cobrar pagamento.
O leque de acusações inclui também o meio artístico. A pintora Maria Isabel dos Santos, de Itatiba, disse ter perdido mais de R$ 15 mil em obras vendidas a Pacheco que nunca foram pagas, embora depois recuperadas pela Justiça. Outros artistas também relataram problemas semelhantes. No mercado de cães de raça, ele teria usado a imagem da DJ Cacá Werneck, esposa de Monique Evans, com quem trabalhou em um projeto, para enganar criadores de lulu da Pomerânia. A veterinária Alessandra Galvão foi uma das vítimas, com prejuízo de R$ 4.500. Vizinhos em Santa Cecília confirmam que Pacheco é visto com frequência passeando pelas ruas com cães dessa raça.
O acúmulo de queixas se espalha em diferentes segmentos. No Gadeilha’s Cabeleireiros, em Higienópolis, a dívida deixada foi de R$ 450; em um pet shop na Avenida Angélica, R$ 350. Há relatos ainda em plataformas como o Reclame Aqui. Em comum, o padrão: Pix simulados, desculpas sobre falhas no aplicativo do banco, fugas repentinas.
A mudança de São José dos Campos para a capital paulista teria ocorrido quando as denúncias começaram a se multiplicar. Desde então, Junior Pacheco deixou de lado a carreira de designer reconhecido e o canal de entrevistas, hoje parado, para acumular processos e registros policiais. Segundo a “Folha de S.Paulo”, o jornal tentou contato por diferentes meios, mas não conseguiu ouvir sua versão. O influenciador chegou a bloquear jornalistas no Instagram.