Foto: Instagram – Elbon Jr.

Elbon Jr. e a força dos que cantam a própria história

Num país acostumado a revelar talentos vocais em ritmo de reality show, com clipes editados ao milímetro e carreiras que duram o tempo de uma hashtag, é raro encontrar um artista que constrói sua trajetória sem pirotecnia, com talento e verdade.

Elbon Jr. é desses casos que chamam a atenção não apenas espetáculo, mas pelo conteúdo. Cantor, comunicador e, mais recentemente, um nome que tem ganho seguidores nas redes sociais e plataformas digitais, ele representa uma vertente possível — e necessária — na música popular brasileira.

Natural de Cachoeira Paulista, interior de São Paulo, Elbon tem uma formação que escapa ao padrão. Acumula experiência como produtor de conteúdo digital na TV Canção Nova, onde roteirizou vídeos, coordenou transmissões e esteve por trás de campanhas que dialogam diretamente com o público cristão e humanista. Mas é no palco — ou mesmo num simples vídeo caseiro no Instagram — que sua presença se impõe. A voz é firme, envolvente, com timbre que evoca referências do soul nacional, como Tim Maia, mas com uma sensibilidade que aproxima sua interpretação de artistas como Vander Lee e Kell Smith. Nada ali soa fabricado.

Recentemente diagnosticado como pessoa com autismo, passou a tratar a música também como ferramenta de compreensão de si mesmo. A descoberta, longe de ser um obstáculo, conferiu ainda mais profundidade ao seu trabalho. “Foi quando entendi o porquê da música ser, desde sempre, meu modo de sobreviver”, escreveu. O trecho, que poderia soar como um apelo, na verdade traz à tona uma potência rara: a de quem canta com o peso da experiência, e não com a pressa da indústria.

Na contramão do mercado fonográfico tradicional, Elbon constrói sua carreira com base em conexões orgânicas. Seus vídeos acumulam milhares de visualizações, seu perfil no Instagram cresce diariamente, e seu repertório — que vai do samba ao pop melódico — vem chamando atenção dos que buscam voz com identidade.

E o que há de novo em Elbon Jr.? Justamente o que há de mais antigo: a arte de cantar com o corpo inteiro, sem filtro de inteligência artificial, sem pretensão de agradar algoritmos, sem medo de mostrar fragilidades. É o talento que nasce do humano, da vivência, da escuta — essa prática em extinção.

Num momento em que a música brasileira é bombardeada por fórmulas de três acordes e refrões descartáveis, nomes como Elbon Jr surgem como alívio e como alerta. Alívio por mostrarem que há, sim, novos artistas preocupados em dizer algo. Alerta porque nos lembram que, por trás de cada bom cantor, existe alguém que tem o que dizer — e que isso vale mais do que qualquer número de streaming.

A nova geração da MPB — se é que ainda cabe esse rótulo — talvez esteja menos nos festivais de patrocínio milionário e mais nos pequenos vídeos que viralizam pela força do sentimento. Elbon é exemplo disso. Não será surpresa se, em breve, ele deixar de ser uma promessa para se tornar uma referência. Porque o que ele oferece não é apenas música. É uma história contada em voz alta — e o Brasil, mais do que nunca, precisa ouvir.

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