Foto: Divulgação – Vitrine Filmes

Estreia – ”Baby”: A crueza da procura pelo pertencimento

O cineasta Marcelo Caetano, em “Baby”, explora as diversas configurações de família e o papel das conexões afetivas em contextos de exclusão social e afetiva. Longe de priorizar o modelo tradicional de família, o filme apresenta personagens que transitam entre dinâmicas de ruptura, resistência e sobrevivência. Baby, o protagonista interpretado de forma visceral por João Pedro Mariano, é um jovem recém-saído da Fundação Casa, à procura de vínculos capazes de preencher as lacunas deixadas por uma família biológica despedaçada.

Baby encontra em Ronaldo, vivido por Ricardo Teodoro, um misto de amparo paternal e interesse amoroso. A relação entre os dois, marcada por intensidades febris e contradições, ilustra a complexidade dos laços que se formam em cenários de vulnerabilidade. Caetano não se esquiva de mostrar o sexo em sua forma mais crua, expondo o corpo como espaço de prazer, dor e luta. Não há romantização: o prazer é um ato de sobrevivência, e o sexo, um reflexo da busca incessante por pertencimento e satisfação.

Visualmente, “Baby” é uma obra vibrante, onde a paleta de cores – especialmente os tons de vermelho e azul – reforça a ambivalência da narrativa. As ruas de São Paulo, com sua opressão e beleza, tornam-se um personagem adicional na trama. Cada espaço retratado carrega a marca de uma cidade fragmentada, onde os personagens buscam construir suas próprias formas de existência. A trilha sonora, enriquecida por faixas como “Foi Mal” de Pablo Urias, amplifica a urgência e o drama dos personagens, conferindo um tom quase documental à obra.

Um dos momentos mais impactantes do filme é o reencontro de Baby com sua mãe, Rose (Kelly Campello). A cena, carregada de emoção, resume a essência da narrativa: a busca pelo amor e aceitação em meio ao caos emocional. Essas interações familiares – biológicas ou escolhidas – são o coração do filme. Caetano exalta a construção das chamadas “famílias escolhidas”, tão comuns nas comunidades LGBTQIA+, como uma alternativa de suporte e resistência.

No entanto, o filme não está isento de falhas. A reconciliação entre Baby e Ronaldo, por exemplo, acontece de maneira apressada, o que enfraquece parte do impacto emocional. Além disso, o foco em elementos como prostituição e tráfico de drogas, embora realista, reforça um imaginário limitado sobre a periferia LGBTQIA+, deixando de lado outras dimensões possíveis das histórias desses personagens.

Apesar de seus tropeços, “Baby” é uma obra marcante e necessária. Marcelo Caetano oferece um olhar sem filtros sobre aqueles que vivem à margem, explorando temas como exclusão, resistência e desejo com uma sensibilidade que transborda a tela. É um poema visual e emocional, um convite ao espectador para enxergar a beleza e a força nas histórias daqueles que muitas vezes são invisibilizados.

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