Fábio de Melo tornou-se uma figura midiática singular: um sacerdote que transita com desenvoltura pelas redes sociais, pelos palcos e pelos programas de auditório. Carismático, bem articulado e atento à estética da imagem pública, ele conquistou milhões de seguidores e admiradores. Mas essa construção tem limites — e suas fragilidades começaram a emergir com mais clareza.
O episódio em Joinville expôs algo que muitos evitavam dizer: a figura do “padre pop” pode estar em descompasso com o papel pastoral que o cargo exige. Ao divulgar uma versão incompleta sobre o atendimento em uma cafeteria, que levou à demissão injusta de um gerente, o padre usou seu alcance para impor uma narrativa, sem verificar os fatos. O vídeo que veio à tona desmentiu a acusação. Fábio de Melo, até agora, não se retratou com a firmeza que se esperava de alguém que representa a fé, o perdão e a justiça.
Esse silêncio — mais do que o erro inicial — é sintomático. Mostra que a imagem que se constrói nas redes é, muitas vezes, mais protegida do que os princípios que se prega. É o momento em que a vaidade se sobrepõe ao sacerdócio, e o influencer se impõe ao pastor.
A isso somam-se outras questões que circulam nos bastidores e nos olhares atentos da imprensa e da opinião pública. Fábio de Melo mantém relações próximas com um grupo recorrente de jovens — quase sempre rapazes bonitos, frequentadores assíduos de seus bastidores e viagens. A proximidade, em si, não é condenável. Mas quando a imagem pública de um padre se ancora tanto na aparência, na companhia e na ambiguidade estética, o que está sendo promovido, de fato? O Evangelho — ou a persona?
É importante dizer: esta não é uma crítica moralista. É uma crítica estrutural. Não se discute aqui o íntimo, mas sim o papel público. Quando o padre se torna maior que a mensagem que prega, perde-se o eixo. Fábio de Melo se destaca, mas é preciso perguntar: destaca-se por quê?
Sem a batina, ele volta à cena comum. Não há nele um gênio da música, nem um autor revolucionário, nem um pensador teológico brilhante. O que há é carisma embalado por estética, linguagem de autoajuda e citações reconfortantes. Sua diferença é ser padre. E isso basta — se for autêntico.
Mas autenticidade cobra um preço: coerência. É disso que se espera mais. Não só de Fábio de Melo, mas de todos que usam a fé como palco. Porque o altar não é cenário, e a fé não é filtro.
Fabrício Correia é jornalista, escritor, historiador e pesquisador das religiões.