Tem canções que a gente não escuta, sente. As de Fábio Jr., por exemplo. Elas não entram pelo ouvido, entram diretamente no peito. Vai chegando devagar, feito lembrança boa no fim da tarde.
Você está no carro, mexendo no celular, distraído da vida — e de repente começa a tocar “Só Você”. Pronto. A gente dá aquele meio sorriso. De lado. Meio com vergonha, meio com vontade de cantar junto. Porque todo mundo já amou como ele canta. E quem não amou ainda, vai amar. Mais cedo ou mais tarde, todo mundo passa por uma música dele.
Fábio Jr. é o último romântico que não tem medo de passar recibo. Casou sete vezes. Sete! Pode chamar de exagero. Prefiro chamar de esperança. Enquanto a geração de agora vive o “ficar” como quem troca de aba no navegador, ele ainda acredita que amar é coisa séria, mesmo casando sete vezes. Que merece refrão, declaração e, se possível, flores.
Ele canta o amor como ele é: bagunçado, bonito, confuso, insistente. Às vezes dói, às vezes cura, mas nunca passa batido. E é isso que ele sabe fazer como ninguém. Contar, em três minutos, o que a gente sente em silêncio por meses.
E tudo bem se acharem brega. Tem dias em que o que a gente mais precisa é de um brega bem-feito. Um que abrace, que diga “vai passar”, que nos lembre que amar vale a pena — mesmo quando não vale.
Fábio Jr. canta para nos acompanhar. Pra dizer “tô aqui” quando o coração da gente resolve dar trabalho. Ele é trilha de reconciliação, de saudade, de primeira dança. Faz música de quem ainda sente.
E pode reparar: quando toca Fábio Jr., ninguém muda de estação. Porque mesmo quem finge que não liga, escuta. Baixinho, por dentro, como quem lembra de um amor antigo e pensa: “foi bom, né?”
Num mundo que anda seco, rápido e todo cheio de “não me apego”, Fábio Jr. é o sim. Sim, eu amo. Sim, eu volto. Sim, eu caso de novo, se precisar. E se der errado, eu canto sobre isso também.
Ele é a parte da vida que a gente vive de verdade. Sem ironia, sem filtro, sem legenda. Só com o coração aberto. E isso, hoje, é raro.
Então deixa tocar. E se vier vontade de sorrir, sorria. Se vier vontade de cantar, cante. Se bater saudade, tudo bem. É sinal de que você ainda sente.
E sentir, no fundo, é a coisa mais bonita que a gente ainda sabe fazer.
Fabrício Correia é escritor, crítico de cinema, jornalista, historiador e professor universitário. Presidiu a Academia Joseense de Letras, integra a União Brasileira de Escritores – UBE e a Academia Brasileira de Cinema. CEO da Kocmoc New Future, é o responsável pela agência “Conversa de Bastidores” e o portal “Viva Noite”. Apresenta o programa “Vale Night” na TH+ SBT. Vive com a doçura de “Só Você”, enfrenta os desafios com a fé de “Pai”, se entrega à vida com a intensidade de “20 e Poucos Anos”, ama com a pureza de “Alma Gêmea” e segue com a coragem de quem sabe, como em “Caça e Caçador”, que amar é também se deixar encontrar. E permanece inteiro — porque, como em “Quando Gira o Mundo”, reconhece que tudo passa, menos o amor verdadeiro.