Aos 64 anos, o escritor Marcelo Rubens Paiva se vê em um momento de transformação. A recente adaptação de seu livro “Ainda estou aqui” para o cinema rendeu ao Brasil seu primeiro Oscar e reacendeu nele um desejo adormecido: a música. “Voltou todo um sentimento do músico Marcelo Paiva, que era o sonho que eu tinha para mim e que foi interrompido bruscamente”, conta ele em entrevista à Teté Ribeiro, da “Folha de S.Paulo”.
Marcelo sempre foi um nome marcante da literatura brasileira desde a publicação de “Feliz ano velho” (1982), sua obra autobiográfica que narra o acidente que o deixou tetraplégico. Mas poucos sabem que, antes de se tornar escritor, ele sonhava em ser músico e liderar uma banda de rock alternativo. Esse desejo foi interrompido de maneira abrupta pelo acidente que mudou sua trajetória.
Agora, com o sucesso do filme baseado em sua história, ele redescobriu o amor pela música e está resgatando essa parte de si que ficou no passado. A banda que idealizava chamava-se “Lost in translation”, título emprestado do filme de Sofia Coppola. Embora nunca tenha se concretizado, a ideia o acompanhou durante décadas.
“A música nunca deixou de ser parte de mim”, afirma Marcelo. Ele se inspirava em grandes ícones do rock, como Bob Dylan, The Rolling Stones e Patti Smith. “O sonho nunca morreu completamente, ficou guardado em algum canto da minha memória.”
Nos últimos anos, acompanhando o crescimento de seus filhos e revendo sua trajetória, Marcelo percebeu que ainda havia tempo para explorar esse desejo. “É um projeto que está voltando à minha vida com muita força.”
A adaptação cinematográfica de “Ainda estou aqui” trouxe não apenas reconhecimento internacional, mas também um novo olhar sobre sua própria história. O filme emocionou audiências no Festival de Veneza e, posteriormente, conquistou o primeiro Oscar da história do Brasil. “Depois de Veneza minha vida mudou”, revela Marcelo.
O impacto do sucesso foi profundo. Ele conta que o processo de adaptação fez com que revisse sua vida sob uma nova perspectiva. “Foi um resgate emocional. Revi minha trajetória com mais generosidade e me dei conta de que há capítulos inacabados.”
Agora, Marcelo quer levar sua música ao público. Ele começou a trabalhar em composições inéditas e está planejando algumas apresentações. “Quero subir ao palco, reencontrar aquela sensação de conexão com as pessoas através da música.”
Embora não tenha planos de seguir carreira musical profissionalmente, ele vê nessa nova fase uma oportunidade de expressar um lado seu que ficou reprimido por muito tempo. “A literatura me salvou, mas a música sempre foi uma paixão secreta. Está na hora de dar uma chance a ela.”
O escritor finaliza a entrevista emocionado. “Estou revivendo uma paixão adormecida por um acidente estúpido. Mas agora, depois de tantos anos, percebo que sempre há tempo para recuperar os sonhos.”