Edy Star, nome artístico de Edivaldo Souza, faleceu na madrugada desta quarta-feira (24), aos 87 anos, em São Paulo, dias após sofrer um acidente doméstico. Natural de Juazeiro, na Bahia, ele se consolidou como uma figura única na cena musical brasileira: irreverente, extravagante e essencialmente livre. Foi um dos primeiros artistas a incorporar o espírito glam à música popular brasileira, tornando-se um ícone da contracultura e da resistência artística e identitária.
A causa da morte foi um quadro clínico de insuficiência respiratória, agravado por problemas renais e pancreatite. Ele estava internado desde o acidente.
A trajetória de Edy é inseparável do disco “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das 10”, lançado em 1971. O trabalho, feito em parceria com Raul Seixas, Miriam Batucada e Sérgio Sampaio, tornou-se uma obra de culto, envolta em lendas e simbolismos. Meio rock, meio deboche, foi um manifesto artístico em tempos de censura.
Mesmo ao lado de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Roberto Carlos, Edy jamais se curvou a convenções. Seu primeiro álbum solo, “…Sweet Edy…” (1974), é um exemplo disso: uma explosão de teatralidade e tropicalismo glam, com músicas inéditas escritas por grandes nomes da MPB. Nele, Edy uniu a estética do glam rock à tradição brasileira do cabaré e do teatro de revista.
Nos anos 1980 e 1990, viveu por quase vinte anos na Espanha. De volta ao Brasil, retomou a carreira com o álbum “Cabaré Star” (2017), sob produção de Zeca Baleiro. O disco reuniu nomes como Ney Matogrosso, Caetano Veloso e Filipe Catto, em uma ode à liberdade artística que sempre definiu a obra de Edy.
O artista ainda lançou em 2023 o álbum “Meu amigo Sérgio Sampaio”, homenagem a um de seus companheiros de estrada mais emblemáticos. E deixa pronto um novo disco, com composições de Raul Seixas, que deve ser lançado postumamente com participação de Edson Cordeiro.
Edy foi um dos primeiros homens gays assumidos na Bahia dos anos 1950, desafiando preconceitos em uma época de opressão absoluta. “Depois de duas tentativas de suicídio e um câncer, tudo é lucro”, disse em 2024, no documentário “Antes que me esqueçam, meu nome é Edy Star”, de Fernando Moraes.
Cantor, ator, apresentador, dublador, agitador cultural — Edy Star foi um artista sem moldura. Para ele, a arte era a própria vida: exagerada, barulhenta, fluida. Sua morte encerra um ciclo de ousadia que jamais será repetido, mas sua estrela seguirá brilhando, exatamente como sempre foi: fora de órbita.