A cantora e empresária Preta Gil faleceu neste domingo (20), aos 50 anos, em Nova York, onde realizava tratamento contra um câncer colorretal que, desde 2024, havia evoluído para metástase. A artista enfrentava a doença com transparência e coragem, dividindo sua trajetória de superação com o público nas redes sociais, sempre com esperança, sensibilidade e senso de humor.
Filha do cantor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, Preta nasceu dentro da música popular brasileira, mas construiu, ao longo de duas décadas, uma trajetória única, marcada pela ousadia artística, pelo ativismo social e por uma incansável defesa da liberdade de ser quem se é — mulher, negra, artista, mãe, empresária, bissexual, fora dos padrões.
Com uma carreira multifacetada, lançou álbuns como “Prêt-à-Porter”, “Sou Como Sou” e “Todas as Cores”, e arrastou multidões em carnavais com seu bloco, além de participar de novelas, filmes e eventos por todo o país. Preta também foi pioneira ao fundar uma agência de marketing digital que deu protagonismo a influenciadores negros e à diversidade no ambiente corporativo.
Além da música, seu corpo e sua imagem foram bandeiras: enfrentou o machismo, a gordofobia e o racismo com posicionamentos firmes e públicos. Fez da sua vida pessoal uma plataforma de acolhimento e representatividade — não para agradar, mas para libertar.
Em entrevistas, revelava sem medo suas inseguranças, reconstruções e dores. Falava de sua bissexualidade, da maternidade precoce, da depressão, dos casamentos, das perdas e das cicatrizes com uma franqueza que se tornou sua marca. Para muitas mulheres brasileiras, Preta foi um espelho real e amoroso: sem filtros, mas com luz.
Durante seu tratamento contra o câncer, passou por cirurgias complexas e internações delicadas, inclusive enfrentando um choque séptico em 2023. Ainda assim, seguiu trabalhando, sonhando e inspirando. Sua última fase foi marcada por uma profunda reconexão com sua identidade e por reflexões públicas sobre o tempo, o corpo e a verdade.
Preta deixa o filho, Francisco Gil, a neta Sol de Maria, e uma constelação de fãs, amigos, admiradores e colegas de ofício que a viram transformar vulnerabilidade em força e arte em atitude.
Seu nome era alegria, mas também luta. Sua voz era música, mas também verbo. E sua presença, imensa, permanece.