Fernanda Torres, atualmente em destaque com sua performance no elogiado “Ainda Estou Aqui”, filme que aborda o período da ditadura militar no Brasil e é cotado para uma indicação ao Oscar, tem em sua carreira outra importante conexão com narrativas de resistência política. Em 1991, Fernanda integrou o elenco de “A Guerra de um Homem” (“One Man’s War”), sua única incursão no cinema internacional, contracenando com Anthony Hopkins e Norma Aleandro sob a direção de Sérgio Toledo.
“A Guerra de um Homem” é inspirado na história real do médico paraguaio Joel Filártiga, interpretado por Hopkins, que enfrentou o regime ditatorial de Alfredo Stroessner após o assassinato brutal de seu filho Joelito, torturado pela polícia secreta. No papel de Dolly, a filha de Filártiga, Fernanda trouxe sua habitual sensibilidade para retratar a força emocional de uma família devastada pela opressão. Norma Aleandro, ícone do cinema argentino, vive Nidia, a esposa do médico, enquanto Rubén Blades interpreta o advogado que auxilia a família em sua busca por justiça.
Embora não tenha recebido grande reconhecimento na época de seu lançamento, “A Guerra de um Homem” permanece como um registro importante de uma história de resistência e coragem. O filme, produzido para a HBO e Channel 4, carece da ousadia cinematográfica que a narrativa exigia, optando por uma abordagem mais convencional. Ainda assim, o elenco entrega performances sólidas, e a presença de Fernanda Torres reforça a relevância do talento brasileiro em projetos internacionais.
A trajetória de Joel Filártiga transcende a ficção. Médico, artista e ativista, ele tornou-se um símbolo da luta pelos direitos humanos na América Latina. Sua determinação culminou no caso jurídico “Filártiga v. Peña-Irala”, que estabeleceu precedentes para julgamentos de crimes contra os direitos humanos nos Estados Unidos. Filártiga dedicou sua vida à promoção cultural, à defesa dos mais vulneráveis e à denúncia das atrocidades da ditadura paraguaia, tanto por meio de sua atuação médica quanto de sua arte.
Para Fernanda Torres, “A Guerra de um Homem” foi um momento especial em sua carreira. Contracenar com Anthony Hopkins, que na época já era um ator respeitado e pouco depois ganharia o Oscar por “O Silêncio dos Inocentes”, e com Norma Aleandro, uma lenda do cinema latino-americano, foi uma experiência única. Sua atuação como Dolly é um exemplo de como Fernanda consegue transmitir emoção e força, mesmo em projetos que não exploram plenamente seu potencial.
Agora, com “Ainda Estou Aqui” sendo celebrado internacionalmente e possivelmente representando o Brasil no Oscar, Fernanda Torres mostra que sua carreira é marcada por escolhas que transitam entre histórias profundamente humanas e socialmente relevantes. “A Guerra de um Homem” talvez não tenha alcançado o brilho de outras produções, mas permanece como um lembrete do alcance do talento de Fernanda e de seu compromisso com narrativas que conectam arte e memória histórica.