Foto: TV GLOBO

Pedro Waddington: corpo e mente jovem no tempo certo de “Vale Tudo”

As críticas apressadas à atuação de Pedro Waddington em “Vale Tudo” ignoram um aspecto essencial: o universo proposto por Manuela Dias não pede performances polidas nem personagens esculpidos à perfeição. A proposta dramatúrgica é outra — e dentro dela, a presença de Pedro encontra uma lógica que não deve ser desconsiderada.

Tiago Roitman é um adolescente ainda em formação para a própria juventude, que carrega o peso de sobrenomes importantes sem ter, no entanto, construído ainda uma trajetória própria. É natural que suas hesitações, suas expressões incertas e sua postura entre o encantamento e o desconforto estejam impressas no corpo e na voz de quem o interpreta. Nesse sentido, a falta de experiência de Waddington — apontada por parte da audiência como uma falha — acaba dialogando, de maneira quase orgânica, com a inocência e o desalinho de seu personagem.

O universo criado pela autora se interessa mais pelas fraturas do que pelas máscaras. Mais pelo tropeço do que pela fala perfeita. Não faria sentido, portanto, um Tiago Roitman excessivamente seguro, treinado em todos os códigos tradicionais da teledramaturgia. O que poderia soar como imperfeição técnica, no contexto da narrativa, é coerência estética e emocional.

As acusações de nepotismo podem até ter sua razão de ser do ponto de vista sociológico, mas não anulam a percepção de que Pedro Waddington cumpre uma função dramatúrgica: ele é, em cena, a imagem do adolescente que ainda não se encaixou nem em sua família nem no mundo. Sua presença deslocada corresponde ao espírito de uma geração retratada com mais falhas do que virtudes, exatamente como pede a atualização de “Vale Tudo” para o nosso tempo.

Em um remake que não busca reproduzir a exatidão da versão original, mas sim reinterpretá-la à luz de um país ainda mais desigual e desencantado, o Tiago de Pedro Waddington é menos uma performance do que um estado de ser. E isso, ao contrário do que dizem alguns, está longe de ser um erro.

Fabrício Correia é escritor, crítico de cinema, jornalista, historiador e professor universitário. Presidiu a Academia Joseense de Letras e integra a União Brasileira de Escritores – UBE e a Academia Brasileira de Cinema. Especialista em Musicoterapia e Vibroacústica. É CEO da Kocmoc New Future, responsável pela agência de notícias, “Conversa de Bastidores” e o portal de entretenimento “Viva Noite”. Apresenta o programa “Vale Night” na TH+ SBT.

 

 

WhatsApp
Facebook
Twitter