O desligamento de Rinaldi Faria não foi apenas o fim de um contrato. Foi o estopim visível de uma crise que vinha se acumulando nos corredores do SBT e que, nos últimos meses, virou assunto recorrente entre medalhões, produtores e executivos da casa.
A versão oficial fala em “comum acordo”, mas o clima que antecedeu a queda do criador de Patati Patatá não deixa margem para poesia corporativa. Ele havia se tornado persona non grata entre nomes de peso, irritado setores estratégicos, enfrentado resistência crescente e acumulado desgaste por decisões que alteravam a programação de forma brusca — decisões vistas como temerárias num momento em que cada ponto de audiência virou uma batalha.
A situação se agravou quando veio à tona um episódio antigo, mas corrosivo: Silvio Santos nunca gostou de Rinaldi Faria. Segundo Leão Lobo, em entrevista ao jornalista Flavio Prado, Silvio chegou a proibir que ele entrasse no camarim. “Não quero esse homem perto de mim”, teria dito. “Esse homem quer minha televisão. Não deixa ele entrar.” O relato ressurgiu no pior momento possível, criando um ruído adicional para quem já caminhava sobre terreno frágil.
Ao mesmo tempo, decisões recentes colocaram Faria sob fogo cruzado. A mais sensível envolveu Carlos Massa, o Ratinho, que soube “em cima da hora” que seu programa mudaria de horário por causa do The Voice Brasil. Ratinho não escondeu a irritação, e a crítica reverberou dentro e fora do SBT.
Nos níveis intermediários e inferiores, o diagnóstico era outro, porém convergente: Daniela Beyruti, presidente do SBT, seria bem-intencionada, mas estaria mal assessorada. As mudanças sucessivas na grade, somadas à falta de investimentos, fizeram com que a instabilidade virasse motivo de piada para o mercado publicitário — um “mico”, segundo interlocutores que acompanharam de perto o desgaste.
Rinaldi havia sido alçado à Superintendência Artística e de Programação há menos de cinco meses, substituindo Leon Abravanel. A ascensão rápida criou expectativa, mas também resistência. Os “medalhões” sempre defenderam que a emissora precisava equilibrar contenção de gastos com investimento em produtos que geram retorno, Programa do Ratinho, Programa Silvio Santos, Domingo Legal, Sabadou. A instabilidade contrariava essa visão.
O comunicado oficial foi protocolar: “O SBT e o empresário Rinaldi Faria comunicam, em comum acordo, o encerramento do contrato de prestação de serviços de consultoria. Rinaldi Faria integrou a emissora há um ano como consultor e, desde julho, acumulava interinamente as responsabilidades da Superintendência Artística e de Programação.”



