The Hit

The Hit (1984), dirigido por Stephen Frears, desafia as expectativas de um thriller comum, oferecendo uma narrativa silenciosa e carregada de tensão filosófica. Estrelado por Terence Stamp, John Hurt e Tim Roth, o filme mistura elementos do gênero policial com uma meditação sobre a morte e o destino, criando um clima único e perturbador.

Willie Parker (Terence Stamp), um ex-gângster que traiu seus comparsas em um tribunal, vive isolado na Espanha há dez anos. Sua paz é quebrada quando dois assassinos, Braddock (John Hurt) e Myron (Tim Roth), chegam para capturá-lo e levá-lo de volta a Paris, onde será executado. O que começa como uma história de vingança logo se transforma em um jogo psicológico onde a serenidade de Willie diante da morte desafia a compreensão de seus captores.

A atuação de Terence Stamp é magistral. Seu Willie Parker está completamente em paz com seu destino, exibindo uma calma que desconcerta os outros personagens. Stamp transforma o papel em algo quase transcendental, mostrando que Willie já abandonou as lutas e ansiedades de seu passado. Ele aceita a morte sem drama, o que torna seu personagem intrigante e imprevisível.

John Hurt, como Braddock, oferece uma performance contida, mas poderosa. Braddock é o profissional experiente, metodicamente cumprindo seu dever, até que a postura de Willie começa a desafiá-lo. Hurt transmite a inquietação de um homem que começa a questionar sua própria moralidade sem dizer muito, e é nesse silêncio que reside sua força como ator.

Tim Roth, em sua estreia, injeta energia ao filme como Myron, o jovem assassino impetuoso. Sua falta de experiência, tanto na vida quanto na profissão, o coloca em contraste direto com os outros dois personagens, e Roth interpreta essa juventude e agressividade com intensidade. Seu Myron é uma bomba-relógio prestes a explodir, mas que também reflete o desejo de provar seu valor.

A direção de Stephen Frears é meticulosa. Ele permite que o filme respire, criando uma sensação constante de tensão enquanto os personagens avançam por paisagens áridas. Cada cena é um exercício de controle emocional, onde o que não é dito pesa mais do que os diálogos. As vastas paisagens desoladas da Espanha funcionam como uma metáfora para o isolamento emocional dos personagens, e a trilha sonora de Paco de Lucía adiciona uma camada melancólica e poética à jornada.

A maior força de The Hit é sua recusa em fornecer respostas fáceis ou cair nos clichês do gênero. O filme desafia a ideia de heróis e vilões, transformando a história em um estudo sobre a condição humana. A morte é inevitável, mas o filme questiona como cada personagem lida com essa certeza. Willie, que deveria ser a vítima, parece ter mais controle sobre seu destino do que os homens encarregados de executá-lo. Braddock e Myron, que deveriam ser figuras de poder, são progressivamente desconstruídos, revelando sua própria fragilidade diante da tarefa que lhes foi imposta.

Ao final, The Hit deixa o público com um sentimento de inquietude. Não há grandes revelações ou conclusões dramáticas, mas sim uma aceitação silenciosa de que a vida e a morte são, em última instância, forças incontroláveis. Frears cria uma narrativa que desafia o espectador a refletir sobre o valor da vida, o peso das escolhas e a serenidade diante do fim inevitável. O que permanece é um filme que, com sutileza e profundidade, explora o caráter humano em sua forma mais crua e vulnerável.

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