A TV Cultura vive um dos momentos mais críticos de sua história. A emissora, reconhecida por sua programação educativa e cultural, já demitiu cerca de 100 funcionários e cancelou nove programas devido a uma grave crise financeira. Entre os desligados está Cris Guterres, apresentadora do aclamado Estação Livre, um dos programas que davam destaque ao protagonismo negro na sociedade brasileira.
A Fundação Padre Anchieta, responsável pela gestão da emissora, atribui a crise à queda de receitas publicitárias e culturais. No entanto, sindicatos de radialistas e jornalistas apontam que o problema está no contingenciamento de verbas estaduais. Embora o governo de Tarcísio de Freitas tenha anunciado um aumento de 10% no orçamento da TV Cultura para este ano, os recursos destinados à emissora não foram liberados, o que tem levado a medidas drásticas, como a substituição de programas inéditos por reprises e a redução de custos operacionais.
Os programas encerrados incluem:
•Estação Livre: voltado ao protagonismo negro;
•Entrelinhas: dedicado à literatura;
•Giro Econômico: com foco em temas financeiros;
•Legião Estrangeira: análises de questões internacionais;
•Brasil, Mostra a Tua Cara!: abordagens culturais e sociais;
•Negros em Foco: voltado à valorização da cultura afro-brasileira;
•Balaio: explorando a diversidade cultural; e
•Na Cadência do Samba: celebrando o samba.
A crise também atinge a Jazz Sinfônica, que está sob a gestão da fundação desde 2017. Os músicos enfrentam salários defasados, além de dificuldades como a ausência de um local exclusivo para ensaios e a falta de reembolsos por gastos básicos, como a manutenção de instrumentos. Segundo a violinista Sílvia Velludo, despesas essenciais, como a troca de encordoamentos, não estão sendo cobertas pela fundação.
A situação vai além das questões financeiras. Representantes dos sindicatos acusam o governo estadual de pressionar a emissora a alinhar sua linha editorial a pautas conservadoras, algo que contraria o estatuto da fundação, que exige independência política e imparcialidade na programação. Programas como Estação Livre, que abordavam temas de gênero, raça e identidade, foram cancelados em meio a essas acusações.
Na manhã de hoje, funcionários realizaram uma manifestação em frente à sede da emissora, em São Paulo, coincidente com uma reunião do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta. O protesto teve como objetivo pressionar o conselho, composto por nomes como Lilia Schwarcz, Eugênio Bucci e Renato Janine Ribeiro, a exigir a liberação das verbas estaduais e impedir novos cortes.
A TV Cultura, que há décadas é referência em conteúdo educativo e cultural, enfrenta um momento decisivo. O futuro da emissora, marcada por sua independência editorial e relevância na sociedade brasileira, depende de medidas urgentes para garantir a continuidade de sua programação e a preservação de sua identidade como um patrimônio cultural público.