Viúvo de Gilberto Braga critica remake de “Vale Tudo”

O remake de “Vale Tudo”, exibido pela Globo, reacendeu uma ferida delicada: como revisitar uma obra que se tornou símbolo do Brasil dos anos 80 sem esvaziar sua potência original? A polêmica ganhou corpo quando Edgar Moura Brasil, cenógrafo e viúvo de Gilberto Braga, manifestou publicamente seu descontentamento com a nova versão.

Em postagem nas redes sociais, Edgar foi incisivo: “Manuela Dias não teve lastro nem intimidade intelectual para fazer um remake da monta de Gilberto Braga”. A declaração repercutiu com força e dividiu opiniões entre fãs, estudiosos e atores.

Vozes da memória

Nos comentários, a escritora e pesquisadora Ana Paula recordou que a novela foi tema de sua tese de doutorado e sintetizou o sentimento de muitos: “O que está no ar é tudo, menos Vale Tudo.”

O ator Fábio Villa Verde, parte do elenco original, escolheu um tom mais afetivo: “Guardo com muito carinho a nossa obra do Gilberto, Leonor e Aguinaldo, grandes mestres. Gratidão por ter feito parte de um elenco que até hoje é inesquecível.” Para ele, a versão atual “é praticamente outra obra”, distante do espírito que marcou a primeira exibição.

O peso de um clássico

Transmitida pela primeira vez em 1988, Vale Tudo não foi apenas uma novela de sucesso, mas um retrato ácido do Brasil. Ao colocar em cena personagens como Raquel Accioli, Maria de Fátima e Odete Roitman, Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva construíram uma narrativa que discutia corrupção, ética e ambição com a crueza que ecoava na vida real.

Recriar esse universo, mais de três décadas depois, significa lidar com uma herança que não pertence apenas à teledramaturgia, mas à memória coletiva de um país. É nesse ponto que surge a tensão: o que significa “atualizar” uma obra que já nasceu como comentário social de seu tempo?

Entre homenagem e risco

O embate em torno do remake expõe uma contradição da própria televisão: a busca por renovar clássicos que marcaram época pode, ao mesmo tempo, celebrar e esvaziar seu sentido. No caso de Vale Tudo, a sombra de Gilberto Braga continua projetada sobre cada cena e talvez seja essa presença ausente que torne qualquer nova versão inevitavelmente comparada, julgada e, por muitos, rejeitada.

 

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